quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Tô e as negas - Parte II - Capítulo I - Um dia de cão

Jesus Maria José Pedro Thiago João e todos os apóstolos. Seria questão de alguns olhares mais atentos a ampla e carregadíssima sala até que Dr. Paiva notasse-o. Esquivou-se de todas maneiras possíveis e até conseguiu passar desapercebido. Todavia, o novo mestre notificou-lhes:

- Bem turma, como hoje é nosso primeiro dia e semestre já quase finda-se. Afim de melhor conhece-los em potencialidade e até mesmo o perfil de que pensam, expoem suas idéias e atribuições sobre estudo, convido-os agora, um a um a passar aqui em minha mesa e retirar uma folha com tema individualizado e quero relatório disso pra semana que vem. Ficou claro?

Apenas uma meia dúzia de sorrisos sínicos e descontentes manifestaram-se com “grato ar de satisfação”. Mas, é claro que ninguém estava sentido-se presidente da república. Como tudo na vida nem sempre é da forma que desejamos, foram. Todas as pobres ovelhas para o matadouro branco de um metro e dez por dois abarrotada de papéis e intermináveis escritos. Naquele dia não houve laboratório. Todos ficaram apenas ouvindo, ouvindo, ouvindo e ouvindo.

Bem, já que nebulosas nuvens pairaram sobre ele e do céu cairam mais que água, não exitou. Enoch dirijiu-se à mesma. Cara a cara com Nestor Paiva, o professor sorriu de imediato. Nada disse, apenas sorriu comedidamente. Revirou dentre todo material e procurou um bom tema para o jovem moço. Não encontrou. Pediu permissão pra ausentar-se da sala e cinco minutos depois lá estava ele com a enciclopédia francesa, o famoso Dicionário Universal das Artes e Ciencias do seculo XVIII:

- Seu tema é maravilhoso meu amigo. Tens sorte. Ironizou o professor ao entregar-lhe um estudo minuncioso sobre “Dissecção na esfera humana para aprimoramento técnico e as relações dos métodos com a sociedade no decorrer dos séculos.”

Quando terminou a fala, todos pareciam petrificados. Ninguém queria ser o segundo a buscar o tema. Afinal, todos estavam no primeiro ano e aquela quase tese de doutorado era demais. Podia-se ouvir a prosa do Cúlex Quinquefasciatus, as pás do ventilador que pareciam girar eternamente os longínquos 360º. Todos imaginavam que Enoch estava encrencado e tiveram certeza absoluta disso quando ele tomou sua “tese” e saiu como presvisto. Todos os demais assuntos foram lhanos. Alguns até fúteis demais. Certezas e incertezas à parte, todos vão-se.

Sabe aquela expressão que diz que quando tudo parece perdido ainda pode piorar? Surpresa. Nesse caso fedeu! No retorno pra casa uma agitação diferente tomara conta da rua estreita de uma bairro familiar conservador. Um louco ébrio de ciroulas sujas cujos largos lábios esbravejava versos sádicos estava a todo vapor. Versos tão profanos do tipo a fazer Marquês de Sade intimidar-se. O mais incrível fora a riqueza de detalhes descritos mesmo naquele lamentável estado.

- Oh não. Não pode ser. Tô o que você esta fazendo? Olha o escândalo. Vamos embora. Enoch enbocara-se na multidão ao reconhcer a voz familiar e perceber que seu amigo era o centro do “movimento”.

- Saí daqui. Me deixa ser poeta ao menos por um dia. Dizia Paulo aos bérros infindos enquanto se engraçava com duas putas negras. Nada seria capaz de detê-lo a não ser a ordem policial. Fim da festa. Todos dispersaram-se com a chegada da polícia. De longe via-se negras ancas balançando e pé na estrada. Nem elas ficaram. Contudo, a polícia enleou Paulo Marcos por perturbação a ordem pública e de quebra levou Ben como cúmplice, participante da farra, haja dado seu estado impróprio do acidente da manhã.

Na delegacia foram interrogados e fustigados não seriam se Tô soubesse calar-se em adequados momentos. Nada mais vira depois que piscou para mulher do delegado. Ponta pés no rosto, pernas, braços, cacetete. Acordou de madrugada na Santa Casa de Misericórdia mais surrado que sálario mínimo e mais quebrado patrimônio público.

Lucas em casa já a tempos. Preocupou-se. Tratou meios de saber dos seus indo encontrar-se com um amigo policial e amigo da Faculdade. Fora informado do ocorrido. Sentiu-se de pés e mãos atado. Contudo, ainda assim conseguiu convencer o delegado que concedesse ir Enoch à casa e a imediata remoção de Paulo ao hospital.

Enfim todos puderam descançar ao manto negro na noite, cortados pela fria brisa dorsal e por exóticos ruídos. Talvez do meio, talvez do peito, talvez de canto algum.

O dia de cão.

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