sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Tô e as Negas - Capítulo II - Parte I - O infortúnio



São duas horas e quarenta e três minutos, horário do velho cuco avistado com penoso jeito à luz acesa do corredor que se contrapunha a “terceira idade” forçada dado que seu cristalino perdera parcialmente a transparência, causando borramento da visão.

Fortes dores. Começa Paulo Marcos delirar. O plantonista inclina-se a ouvi-lo vindo a sedá-lo uma vez mais.

De repente a grande porteira de madeira cedro, já muito surrada pelo tempo e os cupins abriu-se. Ao encontro dele foi desesperada uma mulher que nunca vira. De lábios aveludados, sempre sorridente e um perfume que o vento parecia querer imortalizar. Quão agradabilíssimo. Tudo desconhecido ou novo demais, porém, maravilhosamente bom. Que abraço profundo. Nada soube ao certo dos que os recebiam carícias e algo mais. Apenas um rosto lhe fora familiar. Aquela calma voz de negra bata. Paulo intrigou-se.

Ficou sem jeito de brincar com as mocinhas quando foi convidado. Mas, a mulher que parecia abrochar encantos a cada vez que velha face horrenda do espanto chegasse e pincelava os ceús de melancolia o convencera. Era incrível aquele lugar. Haviam inúmeras casas próximas uma das outras, porém muito distintas e diferentes.

A da loura aura por exemplo era de simples lenha do campo, entretanto, bem acabada. Podera perceber também a elegância das recepções, a condução à mesa, a quantidade exorbitante de louças e vinhos nunca usadas e nunca bebidos. Ao fundo céu cor de azul e forte sol raiava e quão intenso o era, fato este desesperador para maioria da população agreste sergipano. Castigados pela excasses de água, recursos financeiros, de pecuaria falída onde algumas raças poucas ainda conseguiam firmar-se. Entretanto fugiram a regra. Viviam no “quintal” de Augusto Monoel Lór, o homem. Inhô Lozim pra grande parte dos escravos agora alforriados, portanto, parte integrante da economia dada expressiva quantidade deles em todo territério. Era do mesmo modo o Seu Lô para o pessoal do campo e das redondezas, para burguesia urbana e outros mais. E dono do maior “curral de gentes” do estado, ou seja, chefe político, proprietário de terras, do interior do país. Por isso eram exceção os habitantes daquele local. Nada os faltava. Esse nada tem resalvas. Nada o de comer faltava-os. Contudo, trabalhavam do cantar do galo às batidas do sino que anunciavam a missa. Acostumaram-se a dura vida. Eram felizes.

Um bigodudo homem de rosto chupado, calças arriadas e cabeça arredondada era o consorte de Eulália. Ah, antes que me esqueça, Eulália é vislumbrante dama supracitada e protetora de Paulinho. Seu Nicanor Perez sempre foi muito calado, prefira ouvir mais e falar menos. Aqueles avídos olhos nada escapavam. Era o sujeito típico, que ninguém dava nada, porém de grande valia. Era conhecedor da escrita, tinha boa fala, sabia fazer contas, regular as ações de compra e venda, o tempo certo para plantar e colher. Enfim, era essêncial.

Ocorreu que em certa feita Eulália e Nicanor resolveram tomaram o piá e levaram casa de Jurací e Marta que assistiam a algumas poucas léguas dalí. Quanta felicidade meu senhor, tivera tudo para ser mais que perfeito.

- Nicanô, Eulália, que supresa boa demais da conta é essa? Vamo se achegando. Entra pra dentro gente. Sai desse sol da moléstia – Convida-os a entrar a sempre loquaz Marta.

- Resolvemos dar um pulinho aqui hoje visto que o padrinho deu uma saidinha pra capital e menino já estava passado da hora de conhecer as primas. Por sinal onde estão elas? – Indagou Eulália a cunhada.

- Ah menina, nem te conto. Aquelas lá só por Deus. Devem de tar brincando lá pelas bandas do riacho. Jurubeba e Catuaba são duas dismioladas. Não gostam de nada. Soube disso na hora em que as parí. Soube e de imediato que seriam dois trastes inúteis!

Pobres crianças...

- O comadre, não fale assim não. Deus castiga. Afinal, são suas filhas. – Interveio Nicanor que perguntou pelo irmão indo procurá-lo junto a Paulo pelos tantos hectares de terra em que viviam.

- Nicanô fala isso porque não vive com nóis. Das minhas filha só Maria Augusta salva, a mais nova. Acabou de completar cinco anos. Essa eu sei que vai vingar na vida.

- Ah, Marta, só você mesmo. A mesma estouvada de outrora.

- Nem vem falar difícil comigo não. Fale brasilero que eu intendo. O convívio d’ocêis com Coronel Lô mudou muito ocêis duns tempos pra cá. Olha só como se anda, sempre perfumada. E a casa d’ocêis? Dá inté dor nas vista se pruma de ver mesmo. Sem contar a ganha de terra que Lozim deu pro cêis né. Que homem mais bom!

Tratou jeito de mudar o rumo da prosa. Eulália sabia da inveja da cunhada. Consumia-a. Estampava-se em seu rosto. Mais forte que ela, aquele sentimento insâno congelou a espinhela d’Eulália quando Marta alertou-lhe:

- Cuidado

Sorriu, apesar do sentimento feral tê-la tomado o corpo, sorriu. Afinal que poderia acontece-los?

Um comentário:

Camila disse...

Olá... vim agradecer pela visita...
q isso abreviar.... huahauhaua

realmente tds abreviamos...
mas no meu blog eu costumo evitar as abreviações....
hauhauhaua

Beijos....