segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Tô e as Negas - Capítulo II - Parte III - O Infortúnio

Tinha toda razão Doutor Sadre. Um novo dia raiou. Mas, com ele um mundo de desafios esperava-os à batalha. Ben, o afortunado “homem do sono” despertara cedo para surpresa de Lucas que imaginou ser algum vândalo ou larápio adentrando ou sondando aquela propriedade.

Tomaram café da manhã e dividiram as tarefas. Até pensaram em faltar na Faculdade, mas, certamente não seria algo muito inteligente para ambos. Então proveram meios de irem à aula de Dr. Antônia. Lucas em especial tentar convencê-la de sua postura e Enoch aproveitando o ensejo que teria entreaulas daria uma breve passada ao hospital.

Jovens, dispostos, porém, cansados; agora teriam que andar para chegar a Universidade ou pagar para uso do transporte público. Andaram. Contudo antes de chegarem ao ponto, conseguiram carona do patrão de Tô que aproveitou para lembrar de “seu”.

- Salvem meninos!!! Tudo certo convosco? Onde vão a pé assim tão cedo? Caminhada neste estilo? Êta nóis hein!

- Bom dia Senhor. Não. É que “nosso” carro quebrou ontem e enviamos-o ao conserto.

- Não seja por este. Entrem, deixo-os na praça Alvarenga Dias. Afinal é caminho de meu serviço. Ok?

É claro que estava bom. Loucos seriam se renegassem tamanha ajuda de tão insigne homem. Por fim, deixou-os em frente às escdas romanas da Faculdade e seguiu para o trabalho. Tempo é dinheiro. Ainda mais nos anos 30.

Assistiram às aulas os dois jovens. Tudo na santa paz de Deus, na medida do possível. Amém. Fora tão bom que Gian até conseguiu realizar a avaliação necessária. Um feito histórico. Digno de primeira capa. Que lábia tinha aquele garoto quando Dr. Antônia não estava zangada. Impressionante.

Depois, encontraram-se num típico bar da esquina, “Potiguar” onde dialogaram?

- Ufa! Graças a Deus. Um dia menos no ano, uma nota mais no semestre. Hoje, melhor que ontem. Que não será amanhã?

- Uau! Que entusiasmo Sr. Lucas. Viu acaso o passarinho verde, amarelo, azuel e branco? Lembre-se, temos muito a fazer para o Sr. ficar de miolo miolo mole pensando em rabos de saia. Não deu tempo de sair na entre aula para ver o Tô. Tive trabalho de última hora do Sr. Cocô Paiva. Então, temos que ir agora mesmo ao hospital.

- Hum, é mesmo Ben. Tô aquele velho galhofa safado deve estar entediado já. Alcova pra ele só se for devidamente acompanhado e, bem acompanhado por sinal. Lembra da mulata do Rio? Das primas de outrora e aquela uma dos Estudantes Internacionais da Bíblia que ele quase desviou? Nossa Senhora! O cara parece que tem mel até nos póros.

É realmente impressionante. Mas, essa da “irmã” eu não sabia não! Vou pegar um espetinho aqui e você me conta isso no caminho. Quer comer algo?

- Não. Grazie.

Tomou o aperitivo e seguiram. Desta vez de táxi. Ben, recebera uma quantia de seu pai. Um extra pelas “menções de fim de ano”. Até assustou quando foi chamado à Reitoria e o diretor entregou-lhe aquele amarelo envelope gordo. Menções de fim de ano? Que piada. O reitor não era burro de deixar com notas baixas o filho do maior “colaborador” da Insttuição. Começou Lucas a narrar um pequeno trecho da épica vida paulistana de Paulo.

- Táxi! Hospital Menorah das Clínicas, apelido de seu predecessor Albert Einsten, por favor.

Bem, como estava dizendo, tinha tudo para ser e foi só mais um dos trezentos e sessenta e cinco dias do ano do calendário. Só que nossa noção de dia é fútil . As vezes tão vaga que esquecemos que o dia só acaba às zero horas e não quando o ponta surge.

E deu-se que no finalzinho da tarde, bateram palmas lá em casa. Estava de saída. Tô prestou-se à atender porta. Quase voltou quando percebeu que a moça era religiosa, de biblinha na mão e tudo mais. Mas, não passaram-lhe desapercebidos aqueles fartos seios Corcovado. Tão belas curvas e pernas torneadas que pintaram-lhe o imaginário. Já estava todo aceso. Nem lamparina clareava tanto. Ou melhor, nem a Carlos de Campos tinha tanto brilho. Já chegou dando beijinhos no rosto da moça que avermelhou-se. Sorriu. Gostou.

Comprimentou-lhe e leu ou ao menos tentou ler um trechinho bíblico, fato que confidenciou-me depois, que dizia:

- “Não se aparte da tua boca o livro desta lei, antes medita nele...

- “...dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido.” – Josué, capítulo I verso 8. Pronto ganhou a mulher. Era recatada mas, abriu um sorriu enorme. Parecia-se como leque chinês!

Claro que mataria aquele típico versiculo na hora. É o mesmo que perguntar a um Brasileiro se ele gosta de samba, capoeira e carnaval. Afinal de contas, em Calhambeques Tô é o santo homem e teve a melhor educação sacra que Padre DiCappucci pudera proporcionar-lhe nos moldes sagrados da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Aleluia!

Disse tudo aos risos e prosseguiu. Não demorou muito até convidar a moça para entrar, tomar café, água, chá. A noite caia. Lembro que quando saí eram por volta das dezoito horas. Mas, a moça aceitou de cara? Claro que não. Tem sempre aquele charminho todo antes. Entretanto, a colméia de Paulo servia praquê? Ela acabou cedendo. Entrou. Sentou. Subiu. Depois desse dia pude perceber porque os antigos dizem que o diabo é porco. O assunto de virtuoso em vertiginoso passou. Paulo descobriu que Juliana era de Mangabas. Hiper-mega-mini-micro-plus-advanced cidade pertíssimo de Calhambeques. Mundo pequeno, não?

Continuram o papo: Coisa e tal. Tal e coisa. Bem, pra resumir a história que o hospital já tá na esquina, cheguei em casa duas e vinte da manhã da casa de uma daquelas loiras do quarto ano. Estava exausto e fui dormir. Lembro-me e como lembro-me daquelas:

- Oi. Bom dia. Tchau. Foram quatro ou cinco palavras, nem sei ao certo que ela deu-me no café da manhã. Engasguei. Recordo-me de Paulo descendo sorrindo as escadarias de acesso aos quartos. Nada me disse. Também, precisava?

- Jesus, apaga a luz! Onde eu estava moço? Santa Virgem Americana, eu sempre perco tudo mesmo. Isso que dá ausentar-se em dias impróprios. Estou estupefato!

- Ah! Ben, você estava em Niterói num Congresso sei lá de que.

- Putz! É mesmo. Nem me lembre. Mas, porque não falou-me nada depois?

- Imaginei que você soubesse. Afinal, foi um furdunço só como diria Zé José, o baiano da venda.

- Não. Soube de tudo agora. Esse sim é o gatilho D’Oeste. Isso que dá estudar no bloco F, nunca sabe-se de nada.

- Pode crer. Perdi meu almoço todo aquele dia. Contou-me aos detalhes que não atreveria dizer nem em meus dias de álcool mais profundo e de sanidade questionável.

Desceram do táxi e entraram no hospital com aquele ar de “Puta que o pariu, que cara de sorte!”

Nenhum comentário: